quinta-feira, 27 de março de 2014

Marta Medeiros, entrevista

A escritora Martha Medeiros conversou com o G1 sobre o relacionamento de mulheres mais velhas com homens mais jovens. Para a autora de “Divã” - sobre uma mulher com mais de 40 anos que resolve fazer análise, história que chega em abril aos cinemas - todas as relações envolvem um certo interesse. Confira abaixo o bate-papo por e-mail:



G1: Você acredita que um amor entre um homem mais jovem e uma mulher com diferença de 30 anos pode dar certo?

Martha: Diferença de idade é uma coisa, diferença de geração é outra. O segundo caso é um pouco mais complicado, mas, ainda assim, se são dois adultos, devem saber o que querem da vida, ninguém é mais criança para se sentir enganado. Todas as relações envolvem um certo interesse, apesar de ser uma palavra feia. Um casal que tenha a mesma idade tem “interesse” em ter filhos, por exemplo. O que deve ser levado em conta nem é tanto a diferença de idade, e sim a diferença de necessidade: se um cara está se relacionando com uma mulher 20 ou 30 anos mais velha, não pode querer que ela lhe dê filhos, por exemplo. E essa mulher não pode querer que ele seja muito experiente ou lhe proporcione um alto padrão de vida. Podem se amar muito, mas não há mais espaço para ilusões. Essas relações, ao meu ver, funcionam enquanto os dois estão a fim de se divertir juntos. Aí, beleza.

G1: Enquanto homens que ficam com mulheres mais jovens são tidos como “garanhões”, quando são vistos com mulheres mais velhas são muitas vezes acusados de estarem apenas atrás de dinheiro ou fama. E em geral as mulheres são as primeiras a dar as primeiras “alfinetadas”. Como você vê esse preconceito?

Martha: Acho que homens muito mais velhos e mulheres muito mais velhas do que seus parceiros geralmente estão atrás de juventude, mesmo que inconscientemente. Relacionar-se com alguém bem mais jovem é um estímulo para que nos cuidemos mais, para que mantenhamos a vitalidade, para que tenhamos hábitos mais saudáveis. E esses parceiros que são bem mais jovens recebem em troca experiência, vivência, conhecimento, e se acaso receberem junto um padrão de vida mais elevado, tudo bem. Volto a dizer: não acredito que uma mulher de 60 com um garoto de 30 anos possa acusá-lo: “Ele se aproveitou de mim”. Que inocência é essa? Todo mundo aproveita a situação a seu modo, e isso não precisa ser lavrado em cartório, é um pacto silencioso. Quanto ao preconceito, é inevitável. Vem da falta de conhecimento de como funciona a engrenagem “por dentro”. Como todos os preconceitos.


Foto: Divulgação/ Editora Objetiva Martha é autora de “Divã”, sobre uma mulher com mais de 40 que resolve fazer análise (Foto: Divulgação/ Editora Objetiva)G1: Na sua opinião, por que as pessoas têm tanta dificuldade de acreditar nesse amor?

Martha: Inveja! (risos). Voltando a falar sério, as pessoas não têm que ficar julgando os outros. Que importância tem pra nós se Fulano e Sicrana estão juntos por amor, por tesão ou por dinheiro? É a vida deles. Ninguém está com o casal entre quatro paredes para saber que acordo selaram. Acho que é pura vontade de fofocar. Se olharem pro lado (ou até para dentro de suas próprias casas) verão que há muitos casais “convencionais” que estão juntos até hoje não por causa do amor, mas por conveniência, por preguiça, por medo da solidão e muitas vezes por dinheiro também.

G1: Os psicanalistas que conversei para esta reportagem contam que ainda é difícil para a mulher comum assumir esse tipo de relação. Muitas relutam, muitas vezes com vergonha dos filhos e da família. Você acredita que é mais fácil para celebridades expor um relacionamento com um homem mais novo? Elas acabam abrindo portas para as demais?

Martha: Deve ser difícil uma mulher comum assumir um homem muito mais jovem, mas se ela estiver apaixonada, ela vai enfrentar gregos e troianos. Geralmente são mulheres maduras que possuem independência financeira e cansaram de dar satisfação, agora querem aproveitar a vida que lhes resta da forma que bem quiserem. Sem falar que as mulheres têm investido muito em sua boa forma física e se tornou difícil adivinhar que idade elas têm - quase sempre aparentam menos. Mas que é mais fácil para as celebridades, sem dúvida. Cai tudo na vala da “excentricidade”.

G1: No relacionamento entre uma mulher de 65 anos e um rapaz de 25, qual seria a perspectiva dessa união numa década?

Martha: Mas quem está fazendo essa projeção? Só se forem os outros. O casal, certamente, não. Com uma diferença de quatro décadas, é mais provável que estejam renovando os “votos” a cada 24 horas, feito os frequentadores do AA (risos). A verdade é que ninguém tem bola de cristal: uma relação pode durar para sempre ou pode durar meses, em qualquer circunstância.

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