quarta-feira, 26 de março de 2014

CRÔNICA / SONHOS




A NOVELA E PARIS



Aparecida Torneros



As cenas se passam na escadaria da Catedral de Montmatre, o casal protagonista da novela das oito, em lua de mel, observa Paris do alto da colina.



Enquanto trocam carinhos, fazem promessas de amor, já que a vida nos é passada em sua eterna novela, e vivê-la é sonhar, é rodar um filme, é projetar desejos, é aspirar felizes momentos e imortais realizações.



Paris tem essa propriedade: exacerba a capacidade humana de sonharmos acordados, impõe felicidade aos olhares, indica êxtases, convida a experimentarmos o que antes nos pareceria improvável. Paris nos permite o proibido, nos incita ao que é misterioso, tem em sua aura de luminosidade, o segredo dos grandes amores, Paris é a festa dos corações, é o berço das paixões arrebatadoras, Paris é sempre Paris.



Ali, quem não ousa esperar o gênio da lâmpada que, a qualquer momento nos brindará com a imagem de uma obra de arte, ou com a canção das ruas, com a boemia dos insones ou com o cântico dos enluarados. Paris tem sabor de vida vivida, realmente, naquela cidade, um conjunto de fatores concorre para que o mundo se ajoelhe e agradeça.



E quem não se intimida pela paisagem dos barcos que singram as águas do rio Sena, enquanto o mundo gira ao seu redor? E o centro do universo se resume a um toque de mãos nalguma cintura, ou ao abraço manso de um casal que planta a semente do amanhã, antevendo filhos e netos, criando situações de futuro, ao mesmo tempo em que o presente os invade com sofreguidão.



Assim é Paris, intensa e repleta, infestada de turistas, circulante com sua população nativa e seus imigrantes sazonais, irreverente nas suas calçadas de cafés e gente sentada a ler e conversar. Paris parece não ter pressa, e, no entanto ela corre através do tempo perpetuando sentimentos, explodindo em shows noturnos, acariciando lembranças, organizando memórias, superando-se.



Paris alucina? Alguém já disse. Paris é uma festa? É público e notório o seu contentamento onde se festeja a vida e a luxúria, o prazer e o luxo, o amor e a alegria. Paris está em chamas? Constantemente, historicamente, socialmente, e até, ideologicamente.



Paris não sai de moda. Paris não se cansa de provocar sonhos nas pessoas de todos os cantos do mundo que a ela vão pedir a bênção dos deuses da fantasia. Em Paris, toma-se o elixir da inquietação para se curar a ressaca de qualquer embriaguez, principalmente daquela que corresponde à viagem entorpecente que a cidade oferece.



Nada mais justo que uma novela, como já se viu em tantos livros e filmes, mostrar um casal em lua de mel no coração de Paris. É que o amor vivido em Paris é símbolo de encontro eterno, como eternos são os sonhos humanos que atravessam gerações aquecendo as almas, ou melhor, iluminando-as, tendo como fundo a Torre Eifel e como moldura, o céu parisiense.


Só me cabe lembrar que em Paris deixei um inesquecível olhar preso no horizonte, e lá, voltarei para desvendar o alcance da minha mirada, a cada manhã de primavera, ao lado de quem é capaz de me fazer ampliar minha visão do mundo.



Cida Torneros, escritora e jornalista, mora no Rio de Janeiro, onde edita o site A Mulher Necessária (http://blogdamulhernecessaria.blogspot.com)

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