Fez-se o mundo. Sabe-se o que a ciência investiga, houve uma grande explosão, aprende-se sobre as lendas religiosas, terá sido Deus um intenso professor? O fato é que sem essas criaturas que passam pelas nossas vidas, homens e mulheres que nos iluminam pensamento e inoculam curiosidade, sonhos e muitas interrogações, quem seríamos? Um imenso bando de animais a viver sem ampliar pensamentos?
Ora, temos sensação de que os professores voam em torno de nossas dúvidas, muitas vezes, permanecem em nossas histórias por décadas, através de lembranças, gratidão, exemplos, gaiatices, broncas, instantes definitivos que marcam nossa caminhada e direcionam escolhas ou aceleram carreiras, ou ainda, aliviam pressões, acalmam tensões, nos fazem compreender que estudar ou pesquisar pode e deve ser no tempo de cda um.
Lembro de uma professora, a Zulmira, dos meus tempos de normalista, que nos ensinava Pratica de ensino, matéria para orientar futuras professoras primárias. Era 1967, um dia ela trouxe dois copos d'água, colocou sobre sua mesa e começou uma aula inesquecível. Um dos copos tinha agua até a borda, quase transbordava. O outro não chegava nem à metade. Ela foi filosofando. Fomos acompanhando seu raciocínio sobre o potencial de aprendizagem de cada aluno. Há aqueles que um professor logo percebe que pode incentivar e tirar tudo, o tal copo cheio, um tipo de pupilo capaz de alcançar em grau crescente mais e mais informações, orgulho de qualquer mestre, o popular aluno nota 10, campeão.
Mas, Zulmira, brilhantemente, nos chamou muito atenção , para os alunos cuja capacidade de aprendizagem se mostra nos limites do copo que não se encheu que vai subindo de nível, gota a gota, muito vagarosamente, com diminutas vitórias, de acordo com seus esforços, programações geneticas, condicoes socio econômicas, problemas de saude fisica e emocional, muitos fatores. Ela encerrou aquela aula dizendo que o professor deve detectar exatamente o quanto cada aluno seja capaz de sugar e abastecer seu copo.
A missão do mestre é justamente estimular o aluno a superar seus limites, sem comparação, mas com individualidade, atingindo graus pessoais de satisfação da sede de saber. Ela enfatizou, nunca esqueci, busquei aplicar sempre na minha vida de professora, tanto na juventude quando lidei com crianças, como, por mais de 25 anos, em universidades, com alunos de Comunicação Social, exatamente a valorização da caminhada propria que cada ser pensante trilha ao buscar a iluminação do saber.
Orgulho-me de ser mãe de um professor. Acompanho sua luta e dedicação. Lamento que seja uma profissão tão mal remunerada em nosso país. Professores sao criaturas em missão humanitária, afinal, despertam desejos de viajar pelos mundos desconhecidos, abrem portas que nos enchem copos e os fazem transbordar de esperanças. Merecem respeito e agradecimento, aliás, viram pessoas marcantes na história de todos nós, assim como D.Zulmira, que hoje, quase 50 anos depois, segue me ensinando a viver!
Cida Torneros
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