quinta-feira, 5 de julho de 2012

Le Temps... a surpresa do amor, o mistério da vida... resposta ao tempo...

Uma boa conversa via internet, repentinamente, me faz atravessar o tempo...meu interlocutor encontra-se em Argel, capital da Argelia, visitando sua terra de origem, já que vive na França, desde tenra idade.

O tempo, eu me pergunto, para que ele serve, na vida e na morte das pessoas. Tem tantas histórias que o tempo engrandece e outras tantas que ele apaga, o tempo revela coisas antes impublicáveis mas também pode sepultar para sempre amores que não vingaram, que não se superaram, que se escafederam, para surpresa de corações pulsantes que um dia acreditaram em amores eternos. Mas, como não imaginar que a eternidade seja a própria brevidade do mistério que é a vida. Que são 80 ou 100 anos na história de alguém ou da própria humanidade? São nada ou quase nada. Para se respeitar algo consistente em termos de tempo, faz-se mister contar centenários ou milênios, talvez mais um pouco, ou talvez menos? Um amor que dura meses é amor também? Mais do que o tempo de sua duração, a intensidade dos seus sentimentos ou a fortaleza dos seus propósitos? Quem sabe o inquietante ir e vir de expectativas ou mesmo a surpresa dos sentidos incontroláveis, sejam hormonais ou racionais? Corpos que se glorificam, brilhando em torno da luz de alguma boa fala, em qualquer língua dissonante...Salam!!! saudo meu amigo árabe, meu amigo francês, meu amigo argelino, em momento feliz por saber que ele existe e eu também. Saber que é possível atravessar as ondas do tempo, através dos ventos, alcançar terras distantes, perceber a magia dos encontros que a vida oferece e apesar de tudo, crer na efemeridade do nosso tempo por aqui, nossa passagem por um mundo tão intenso e misterioso, tão diferenciado em raças, hábitos, culturas, histórias...


Do outro lado, meu amigo me fala de Farfar. Sua vila de nascimento, de onde saiu aos 3 anos para viver com a família, em Paris. Avisa-me que no próximo domingo irá ali, visitará familiares velhinhos, alguns beirando os 100 anos, que por lá fincaram raízes, onde ele reencontrará suas origens, enquanto ainda há tempo para trocar algo substancial ou espiritual com sua própria gente.


Falo que no Rio de Janeiro o calor está grassando, ele me diz que lá está muito frio. Rimos juntos das nossas falas entrecortadas em línguas díspares, um pouco do francês, de minha parte, mal escrito, uma dose consensual de inglês, algumas saudações em espanhol e árabe, palavras soltas em português, que tento  explicar, principalmente no que diz respeito ao futebol, do qual ele é fã inconteste.


Ele me diz que ama o Brasil desde 1970, desde a Copa do Mundo. Já se passaram mais de 40 anos e no entanto, as imagens daquela Copa estão marcadas em mim  e nele, que nem sequer imaginávamos um dia nos conhecermos ou falarmos sobre isso.


A vida segue, cheia de surpresas, os amores que confessamos são tão importantes quanto os que nem ousamos imaginar, os mistérios do tempo nos enveredam por almas religiosas ou não, aí está a física para provar ( ou pretenciosamente questionar) que não há espaço-tempo, no final das contas.


O mundo roda, gira a Terra, somos o nosso próprio tempo, em corpos que se buscam ou se bastam, que se desenvolvem ou se desgastam, em mentes que se surpreendem ou se deterioram, em crenças que se arraigam ou se amansam, aí vamos nós...


Ao nos despedirmos, podemos dizer Au revoir, Salam, Adiós, Até logo, Bye, ou somente... silenciar , com o tempo...


Ao nos reencontrarmos, qualquer dia desses, talvez em Paris, talvez no Rio de Janeiro, quem sabe em que tempo, poderemos  zombar do tempo, como faz a Nana, na canção...ou será que o tempo é que zomba de nós? Vou voltar no tempo e re-ouvir a música...Resposta ao tempo, uma das mais lindas que já escutei, pode ser que, com o tempo, eu consiga decifrar quem de nós controla o próprio tempo ou simplesmente o joga pelo ralo com as águas da chuva? 


Ah, lembrei...o tempo ri, na letra da canção...vale a pena passar como o tempo passa...

Diz que somos iguais...ele é o tempo...

Nós somos o que ele nos deixa ser...

Isso me consola...pelo menos, agora...


Maria Aparecida Torneros

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