Dos beijos de carnaval
Dos beijos de carnaval
( texto publicado em sites, autoria: Maria Aparecida Torneros)
A alegria contagia ocarnaval. Sorrisos que cantam as canções da folia.
Uma boca que oferece um beijo. Pode ser roubado, sem jeito, de surpresa.
Vale a espontaneidade que marca os beijos do carnaval. Não precisam de
ensaio. Um desfile de beijos na passarela elimina as diferenças entre
raças ou espécies.
A bailarina beija o índio, o kalifa troca a
odalisca e oscula a coelhinha, sem falar na oncinha que beija o cigano e
a cigana que beija o pirata.
Mistura de classes, idades, cores, brilhos, originalidade à solta, a sensualidade toma conta do povo.
A senhora matrona ganha um beijo do jovem atrevido. O homem maduro se
arrisca a roubar o carinho de uma ninfeta saltitante. É carnaval, não me
leve a mal, vou beijar-te agora, amanhã é outro dia.
Amores de
carnaval surgem e se duram os três dias, são pra sempre nas lembranças.
Nada como beijar nos carnavais, com a isenção das letras dos sambas e
marchas a embalarem nossas promessas de amor volúvel. Ninguém tem
compromisso com o tempo, não há futuro no carnaval. Só o intervalo. Há
que se ter prazer de viver, esquecer dos dramas , pensar só muito depois
nos problemas do dia-a-dia.
Nos desfiles, na passarela, nos
camarotes, no asfalto, nas arquibancadas, os brilhos e coloridos dos
olhos e dos sorrisos, sutilezas borbulhantes, que trafegam entre corpos
balançantes, pernas puladeiras, pés afogueados, cabeças inquietas,
braços nadadores dos ares da ilusão.
Atrás dos trios
elétricos, dos cordões de frevos, todos se empurram e pulam, se abraçam e
cantam. Nascem a todo momento os beijos entre amigos, amados e
estranhos que passam a se conhecer impulsionados pelo clima alucinante
que o carnaval suscita.
Vale tentar conquistar aquele novo
bem, que nem bem é um bem duradouro, mas o troféu insano, o beijo que de
tão desejado, quando ocorre, já era de gosto antecipadamente sentido.
Nenhum beijo do resto do ano se compara aos beijos do carnaval.É como o
desenrolar das serpentinas no ar, como os confetes a se espalharem nos
ventos, caindo sobre as cabeças fora de prumo, tem a viagem da loucura
que torna cada folião um ser de múltiplas dimensões.
Um beijo
dado no carnaval fica na lembrança como um ato de entrega, carinho, como
o socorro da respiração boca a boca, salva o carnaval e dá sabor a
vida.
Os beijos do carnaval parecem salvar mesmo a esperança
dos vivos, dos seres capazes de sair por aí, dançando a euforia dos
amores que se vestem de purpurina, de plumas, de paetês, de tantas
cores, tantos iluminados e iludidos movimentos.
Beijos que
restabelecem a paixão fugaz, em cada coração de pierrots, colombinas,
arlequins, mestre-salas, porta-bandeiras, passistas, rainhas, destaques,
reis, bateristas, abre-alas, carnavalescos, puxadores de samba,
cabrochas, comissões de frente, baianas, alas de criaturas caricaturadas
de emoção, e ainda, nas almas sedentas do eterno carnaval de lábios
oferecidos para o prazer, como se fossem a respiração boca a boca que
nos devolve a vida ou a esperança dela.
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