terça-feira, 8 de março de 2011

O "sexo forte" nas estatísticas...

O "sexo forte" nas estatísticas...



Cada vez que vejo notícias sobre as mulheres que comandam suas famílias, não posso deixar de questionar sua coragem no início do século XX, quando elas saíram à luta, com suas bandeiras empunhadas, pregando o direito de votar, herdeiras das primeiras operárias das fábricas da revolução industrial, saias compridas, corpos ainda muito cobertos, olhares que visualizavam seu próprio futuro: difícil, mas desafiador.






Hoje, elas (nós) estão nas estatísticas brasileiras, como um terço de "chefes" de família. Nem sei como interpretar isso ao pé da letra. Deve ser mesmo porque não tinha outra solução. Os homens nos dão os filhos e somem? Esta perguntinha me inquieta. Nossos filhos e netos são sustentados por mulheres guerreiras, que tomam as rédeas do seu dia a dia, na busca de matar a fome e educar, sem ajuda de companheiros. Onde estão eles? Será que fogem ou se acomodam, será que ficaram pra trás, assistindo a marcha feminina, desistindo de caminhar ao lado das que hoje vestem calças compridas, saias curtas, mostram seus corpos libertados, cabelos coloridos, rabos de cabalo balançantes, sorrisos de vencedoras? Seria esse o resultado de uma guerra de sexos? Eles se vão e elas assumem o leme do barco, levam a nave adiante em direção ao porto onde suas famílias consigam, pelo menos, não morrer de inanição. Elas nem param para pensar ou deixar que se percam os laços desfeitos, desamarrando seus corações da mesma forma que o desamor pode explicar o abandono por parte dos pais pertencentes ao sexo "ex-forte".






Estes dados em nada engrandecem nossa classe. Ao contrário, provam que o sistema é cruel, marginaliza a maioria dos homens que não conseguem sustentar os filhos, sobrando para as mulheres guerreiras a solução de se empregarem em atividades menos valorizadas que as ajude a alimentar as bocas famintas das suas proles. O modelo sócio-econômico injusto torna as mulheres representantes de um \"sexo forte\" nas estatísticas, mas no fundo, forte mesmo é o instinto de sobrevivência, diante de um quadro social desequilibrado.






Seria muito simples concluir assim, mas me ocorre que há um cheiro de falha nessa engrenagem social. As mesmas estatísticas apontam para o desencanto masculino do homem que se desemprega ou se embebeda, fugindo da realidade infeliz onde se vê metido por desmandos superiores, por sistema cruel que o marginaliza no processo produtivo, tornando-o um número a mais na legião dos "fracos" e oprimidos.






Aí, entra em campo o instinto materno, animal, protetor da cria, capaz de aceitar qualquer meio de subsistência para proteger sua prole. Mulheres "chefes de família", em sua maioria, o são, por necessidade e não por opção. Um processo as empurrou nesse corredor estreito ao fazer da sua vida uma corrida cuja bandeira a tremular é a do orgulho da espécie.






Cada uma delas, quer dizer, de nós, sabe o quanto nos custa esta batalha diária numa guerra pontuada por extrema injustiça. Não podemos culpar apenas o caráter diminuído de muitos homens que, infelizmente, abandonam as famílias. Há uma grande zona de sombra na desilusão social, nos sonhos que a novela da televisão passa aos representantes do sexo masculino a quem só resta assistir, vergonhosamente, à condição em que está relegado, nas estatísticas.






Se os números comprovam tanta desigualdade, é preciso, sobretudo, que sejamos aliados e não inimigos, retomando a caminhada, do mesmo lado, com humildade, deixando de lado o machismo antiquado e o feminismo ultrapassado, nos permitindo crescer juntos. Dividir o tal "comando" pesará menos nas costas e na alma de todos nós.






Aparecida Torneros

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