sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mais uma vez, chegou o Natal!



Sessão das 20 horas. O cinema do shopping estava praticamente vazio. Era dia 22 de dezembro, comigo, devia ter umas dez pessoas somente na sala de exibição do filme "Aparecida, o milagre", enquanto bem pertinho, ali fora, uma febre consumista esbanjava correria, anestesia geral que leva as criaturas a uma loucura coletiva enquanto compra seus presentes, as costumeiras lembranças de Natal, um comércio movido a giro de capital, conduzido com certa religiosidade orquestrada, nos finais de todos os anos.






Ando em fase de repensar o modelo de vida que levamos. Desde 2005, quando fiz o MBA em Gestão Ambiental, iniciei um processo interior que me induz a questionar o quanto gastamos de energia retirando do Planeta Terra muito mais do que este paraíso pequenino perdido num universo imenso é capaz de oferecer ou ter condições de suportar em termos de sustentabilidade.






Decidi não fazer nenhuma "comprinha", entrei no cinema, fui ver o trabalho brasileiro que conta um conto de fé, dirigido pela talentosa Tisuka Yamasaki, e , em seu papel principal, vejo o ator Murilo Rosa, que apresenta emocionante interpretação do homem que havia perdido a crença quando ainda era um menino.






Não sei o quanto o roteiro do filme é baseada em algum fato real, ou melhor, como me chamo Aparecida, sei e sinto, na pele, o nível de carinho que o povo brasileiro transmite em relação à Santa Padroeira, e o alcance das promessas pagas no Santuário Nacional de Aparecida, pelos devotos que recebem suas graças, caminham em suas vidas apoiados pela unção de uma história de amor, de esperança, de conforto interior, de agradecimento, de irmandade, de energia forte e positiva.






Consigo abstrair diante da tela o essencial que preciso para ultrapassar as felizes festas, o volume de emoção para distribuir e receber abraços, trocar bons votos, ofertar bons fluidos, receber carinhosas manifestações de sinceros desejos de paz e amor.






Saio do cinema e caminho até minha casa, debaixo de um chuvisco frio que me atenua o calor intenso, me revigora a alma, me proporciona a calmaria necessária para voltar às ruas apinhadas enfrentando o borburinho que passa por mim, pessoas e sacolas, trânsito aflito, luzes piscando na noite que antecede as vésperas do Natal.






Acabei de assistir a um filme que representa exatamente a saga de um povo que acredita em dias melhores, que promete boas ações em troca de saúde, paz, conquistas profissionais, materiais e espirituais. Sigo lembrando as vezes em que já visitei o santuário de Aparecida, na maioria das vezes acompanhando meu saudoso pai, e testemunhando momentos de confiança na divindade, dos quais eu partilho humildemente e reverencio a importância da crença e da fé para suportar a caminhada dos peregrinos neste mundo.






Chegou o Natal, mais uma vez, com sua parcela de reflexões espiritualizadas, que, no mundo ocidental e capitalista, se transmuta em cifrões e toma ares de valores presenteáveis, mas ainda consegue estabelecer nas almas e corações o cerne da doação, da dádiva emocional. É o encontro profundo entre seres sedentos de milagres, caminhantes da estrada que nos conduz a uma Noite Feliz, quando os sinos batem, festejando o nascimento do Menino Deus, em suma, é tempo de nos repensarmos, nossas mazelas pessoais, os ideais de vida, a convivência com nossos pares, familiares, amigos, vizinhos, nossas viagens pelos atalhos da saudade de muitos outros Natais, as lembranças de momentos marcantes das trajetórias individuais, os olhares e sorrisos que nos tornaram melhores, as palavras que nos ensinaram a reler e rever conceitos de bondade ou maldade.






Milagres acontecem, nascer é um estranho e maravilhoso milagre, viver é a sequencia milagrosa de acasos, crer é instância poderosa que nos ajuda nos embates em nossas vidinhas de consumistas de shoppings, compradores e distribuidores de presentesl, passantes em ruas repletas de sorrisos que se espalham misturando-se a um sem número de auras anjelicais.






Ilusões, sonhos, crianças ansiosas pela chegada do Papai Noel, velhinhos agradecidos pela mensagem do Menino Deus, as reportagens traçando detalhes dos movimentos natalinos em cidades como Nova York, Paris, Londres, o frio das nevascas enfeitando o Natal Branco do hemisfério norte, a neve artificial ornando Gramado, as rodoviárias apinhadas com milhares de pessoas a caminho de seus merecidos abraços em familiares e amigos.






Cá estamos nós, mais uma vez, a vivenciar o espírito de Natal, enquanto a padroeira Senhora Mãe de Jesus busca um lugar em Belém, para dar a luz a um menino que nasce num estábulo, pobremente, trazendo com ele o dom de ser divino e humano, espírito capaz de ultrapassar mais de 2000 anos com seu aniversário comemorado entre a febre do consumo e a reflexão sobre o Amor. Cantem os anjos mais uma vez: Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra aos homens de boa vontade!



Cida Torneros

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