quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

José Saramago e Pilar del Rio: amores também são escolhas...

Amor parece coisa mesmo de novela, romance, cinema... tem muita história e muita ilusão... na prática, o perfil amoroso tem sua versão mais comum a interesses de caráter financeiro ou sexual, ou ambos, mas nem sempre amor pode ser medido, ou melhor, não deve ser...uma vez que amor tem um lado irracional, imperfeito, inexplicável, inquieto, imorrível ( se podemos usar palavra tão estranha)...em lugar de imortal...

Amor parece algo que fica, atravessa o tempo, sobrevive ao tempo da morte, sobrevive em sonhos, em lembranças, em feitos, em páginas, em histórias, em contos, em memórias.

Fui ver o filme-documentário " José e Pilar" , sobre o amor entre a jornalista espanhola e o escritor português, uma relação que durou os 20 anos em que conviveram, sendo ela 28 anos mais nova, e tendo ele 63 anos quando a conheceu...

Conto de fadas? não! Vidas dedicadas ao trabalho, literatura, pesquisa, participação, viagens, cumplicidade, carinho, respeito mútuo, afinidades, juntaram-se na esquina da vida e construíram um mundo particular capaz de vazar sentimentos para leitores, admiradores, cineastas, e tanta gente que precisa, como eu, redescobrir o mistério que um grande amor possa encerrar dentro de si mesmo

Situar nossas expectativas de vida dividida, envelhecimento testemunhado por quem nos é capaz de amar e nos inspira amor em contrapartida...

Não há como medir, não se torna viável comparar nada, cada um viverá seu próprio amor, dentro das suas chances, sortes e da coragem de recomeçar um dia uma nova vida ao lado de alguém que não se deixe escapar ou por medo ou por fuga...

Escolhas, sim, amores também são escolhas, são decisões, são tomadas de posição diante de novas possibilidades... 

Há que enfrentar o desconhecido, vale mudar de cidade ou país, vale trocar de rotinas, estudar novas línguas, degustar outras culturas, aprender a andar por novos caminhos, isolar-se em ilhas ou asilar-se em abraços de aconchego e alívio...

Amor maduro tem o envólocro da seda humanizada, uma paz conquistada e um dia a dia compensador pelas tarefas cumpridas, pelos desejos realizados, pelas conversas longas e esclarecedoras...

Um casal como José e Pilar nos dá o exemplo do quanto o amor possível tem lados e mais lados, tem facetas com milhões de luzes a piscar para as estrelas do universo.

Sem Deus, aparentemente, porque a divindade aparece na crença que Saramago tinha no seu trabalho, na consciência cidadã, na palavra concebida e no afeto correspondido.

Pilar tem a função de continuá-lo. Preside agora a fundação com seu acervo, segue companheira do homem que ama e amará para sempre.

Cida Torneros



18/06/2010 18h44 - Atualizado em 18/06/2010 19h52

Documentário conta história
de amor entre Saramago e esposa

'José & Pilar', da produtora O2, narra paixão por mulher 28 anos mais jovem.
Para diretor do filme, escritor português não era incendiário, era apenas lúcido.

Gustavo Miller Do G1, em São Paulo
Saramago e Pilar (à direita), com a equipe por trás do 
documentário 'José & Pilar'Saramago e Pilar (à direita), com a equipe por trás do documentário 'José & Pilar' (Foto: Arquivo pessoal)
“Se eu tivesse morrido aos 63 anos antes de lhe ter conhecido, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora”. É assim, a partir de uma bela declaração de amor de José Saramago à esposa Pilar Del Río, que o diretor português Miguel Gonçalves Mendes inicia o filme 'José & Pilar', documentário que estreou em novembro no Brasil.

O longa, que levou três anos de filmagem, é um retrato íntimo do escritor - que aos 87 anos - ao lado da jornalista espanhola, 28 anos mais jovem. Os dois se conheceram em 1987 e, segundo Mendes, completavam-se. “Ela lhe deu uma segunda vida. Ela é lutadora, vive a batalha de mudar o mundo, enquanto ele era português: melancólico, sereno... Uma combinação perfeita”, resume o cineasta, em entrevista por telefone ao G1.
O documentário tem como ponto de partida a criação do romance “A viagem do elefante”, de 2008, e termina na viagem de divulgação dele no Brasil. Mas, como o título sugere, o filme é sobre José e Pilar que, de tão apaixonados, tiveram seus nomes escolhidos para batizar duas ruas que se cruzavam na cidade portuguesa de Azinhaga, terra natal de Saramago.
A esposa de Saramago, Pilar del Rio, leu um trecho de 'O evangelho
 segundo Jesus Cristo' no velório do escritorA esposa de Saramago, Pilar Del Río, no velório
do escritor (Foto: Augusto Finfer/Reuters)
"Quero, sobretudo, que as pessoas os vejam como eu os vejo e partilhar com todos e de uma forma condensada o saber que eles possuem. Qual a sua visão do mundo e em que é que acreditam. No fundo quero que quem assista a este filma sinta que conheceu de uma forma muito íntima estas duas pessoas, que são brilhantes", explica.
Mendes explica que o “José e Pilar” também relata a origem pobre de Saramago até os anos mais recentes, de agenda atribulada. “Sua saúde estava muito debilitada na época das filmagens. Eu mesmo não imaginava que conseguisse terminar o livro. Ele não só o fez como escreveu outro, ‘Caim’, o que só mostrava a sua força”, explica.
Durante a entrevista, Mendes teve dificuldades para falar sobre o escritor. Comentou que, apesar de Portugal estar em luto, Saramago foi muito injustiçado em seu país ao ser chamado de ateu e comunista.
"Algumas pessoas dizem que José era um incendiário. Mas Saramago não era incendiário, era simplesmente lúcido! E tentou, dentro do possível, melhorar o mundo através do impacto que as suas opiniões podiam ter naqueles que as ouvissem. Ao contrário da arrogância que algumas pessoas afirmavam, ele será de uma doçura e simpatia incríveis. Para não falar no seu sentido de humor, que é brilhante. Mas, como dizia, ele não tinha culpa da cara que tinha”.
“José & Pilar” é uma produção da brasileira O2 Filmes (de Fernando Meirelles) com a espanhola El Deseo e foi lançado simultaneamente no Brasil, Portugal e Espanha em 16 de novembro, dia de aniversário do autor. 

Velório na Espanha e em PortugalO corpo de Saramago foi velado em uma biblioteca que leva o seu nome na cidade de Tías, na ilha canária de Lanzarote. O prefeito José Juan Cruz decretou três dias de luto.
Os restos mortais de Saramago foram transportados a Lisboa por um avião enviado pelo governo português. Em cortejo fúnebre, o corpo foi levado até o Salão de Honra da Prefeitura de Lisboa, onde permaneceu até domingo, quando foi cremado no cemitério do Alto de São João, na capital portuguesa.
De acordo com a agência de notícias EFE, é possível que parte de suas cinzas seja enviada a seu povoado natal, Azinhaga, em Portugal, e a outra parte fique em sua casa de Lanzarote, no arquipélago espanhol.
A escritora Nélida Piñon representou a Academia Brasileira de Letras nos funerais do escritor. Autoridades do governo português declararam luto oficial de dois dias pela morte do escritor.
Problemas de saúdeSegundo Pilar del Río, Saramago passou mal após tomar o café da manhã e recebeu auxílio médico, mas não resistiu e morreu. Ele sofria de leucemia e, nos últimos anos, havia sido hospitalizado em várias oportunidades devido a problemas respiratórios.
"No dia 18 de junho, José Saramago faleceu às 12h30 horas [horário local] na sua residência de Lanzarote, aos 87 anos de idade, em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila", diz uma nota assinada pela Fundação José Saramago e publicada na página do escritor na internet.

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