quarta-feira, 17 de novembro de 2010

SENEGAL



Volto aos anos 60, a menina aluna do curso ginasial que tinha um trabalho de geografia para fazer. Devia escolher um país qualquer, do mundo inteiro. Escolhi, aos 12 anos, o Senegal. Nem me perguntem porque, eu não saberia explicar.

Na classe, foi um festival de apresentações sobre França, Portugal,  Inglaterra, Itália, Estados Unidos e por aí... O  professor e a turma se espantaram quando mostrei o pouco que meu  pai conseguiu para que eu tivesse material,  correndo consulados africanos e a pequena representação diplomática do Senegal. 

Eu quis  entender aquele continente, ou tentar entender... afinal, dele vieram tantos brasileiros afro-descendentes, de tribos que na América se tornaram escravas. Ali, não foi difícil perceber, havia e ainda há, muita riqueza mineral, e a colonização baseada na exploração dos mais fortes sobre os mais fracos,  começava a diminuir naquela década, com a independência de alguns povos e a instabilidade civil que se traduziu em guerras cruentas nos anos seguintes.  


Ontem, revi esse filme antigo, sobre a África e a vida de uma dinamarquesa que para lá foi nos anos 20, interpretada pela atriz Meryl Streep, contracenando com o ator Robert Redford.


Intitulado em português como "entre dois amores" , o enredo onde me situei pelo menos há vinte anos atrás, quando vi o mesmo filme pela  primeira vez. A bela e selvagem África.

Sentindo o continente negro dentro da minha alma, mais uma vez, me reportei ao Senegal, ao Kenia, a Moçambique, a Angola, a Africa do Sul, passeei nas savanas, busquei o cheiro animal do selvagem encontro da vida com a procriação...
Pude me ver projetada em algum lugar mais hospitaleiro, talvez uma cabana perdida na imensidão do mundo, onde o pôr do sol seja de um encanto tamanho que me faça reencontrar o amor, o mesmo que levo dentro de mim, onde quer que eu vá...


Sei que a gente daquele Continente fica , permanece, no meu coração, como tantas permanecem, e transcendem o tempo, transcendem a  história... tudo está certo, é parte de um contexto maior, na nossa história...

Mandela e o apartheid. A alegria de fênix, daquela gente explorada, apesar de tudo, sua lição de felicidade interior, ou da  busca incessante de escolher como no filme, "entre muitos amores"...

Ou se ama a vida  e se luta por ela, ou se entrega os pontos e se deixa explorar pelos desbravadores que lhes levam, ou tentam usurpar, a dignidade de serem os donos da terra, os  habitantes originais de lugares ricos e lindos, que pertencem a uma raça chamada humana... afinal... 

No filme, revisto e revivido, redescobri a África, e sei porque a tal Copa do Mundo tão colorida e vibrante, oscilou entre muitos amores, não apenas dois, mas nos milhares de amores que norteiam  nacionalidade, guerra, poder, rivalidade, posse, hegemonia, multinacionalidade, exploração de minas , pedras preciosas, petróleo, num mundo ainda tão dividido, tão desigual, tão variado em camisas de times de futebol, hinos, bandeiras, apegado a fronteiras e disputas.


Salve a África! salve o Senegal, Angola , Moçambique, Nigéria, Marrocos, Egito, África do Sul, etc.etc... 

Cida Torneros

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