quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sonhos madrilhenhos...

Sonhos madrilenhos...



Durante doze anos, entre os 83 e 94, editei um veículo de comunicação, dirigido ao imigrante espanhol radicado no Brasil. Havia a era Felipe Gonzalez, de grande chamamento socialista, consolidando a disputa ética entre a direita e a esquerda que da Espanha, resquício do franquismo, vinha em ondas, atingir os representantes aqui instalados, com seus descendentes. Naqueles tempos, lembro que vivi de clube em clube, acompanhando as datas festivas da comunidade à qual tenho orgulho de me incluir, por força do sangue da galega Carmen Doval Torneros, "la madre de mi padre". Foi com ela , naturalmente, que aprendi a admirar a cultura hispânica, e foi de quem ouvi primeiro falar sobre as agruras da tragédia que foi a guerra civil espanhola.

Tive a alegria de acompanhar, quando produzia o periódico intitulado "Jornal de España", uma caminhada consciente do povo espanhol rumo à democracia moderna, e, ao observar as reações da colônia espalhada em todo o Brasil, verifiquei seu envolvimento com a questão da nova nação. Sintonizada com a tecnologia mais moderna, que resgatou seu papel de país importante no continente europeu, despontando, definitivamente no mundo do turismo, hoje, sua fonte de renda mais visível, com um movimento que chega a triplicar sua população, a partir do fluxo de visitantes-ano, em altas temporadas.


Madrid é o centro desse sonho. Da cidade-berço da vida espanhola, disparam-se os raios de luz que vão em direção a todas as regiões históricas, industriais ou impregnadas de cultura e magia, como Andaluzia, Catalunha, Galícia, entre outras.


Em Madrid tudo parece concentrar as lendas da Espanha que produziu contingentes de emigrantes que vieram povoar e trabalhar nas Américas , nos séculos XIX e XX, para fazer a vida, tentar ganhar o pão, sobreviver, em melhores condições. A escritora Nélida Piñon, neta de galegos, publicou no livro República dos Sonhos, obra que registra a vinda de imigrantes para o Brasil, um verdadeiro manual de sentimentos ibéricos, dos corações de homens e mulheres, que , no fundo, desejavam mesmo é que seu país prosperasse e não mais fabricasse filhos que precisassem emigrar fugindo de más condições de vida.


Hoje, o lugar dos sonhos está repleto de superação. Desembarcar em Madrid, lá estive em maio de 2009, com a mala cheia de sonhos, como bem o disse, meu amigo Vitor Hugo Soares, que, ao se dirigir à Espanha, terra de Cervantes, autor da maior obra da língua hispânica, legou-nos a herança exemplar de um Don Quixote, capaz , sobretudo, de sonhar.

Aparecida Torneros

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