quinta-feira, 1 de julho de 2010

NATUREZA


Natureza

Meu caminho é teu, não sabes, não crês?

Meu carinho é ainda teu, não vês?

Meu sonho é para ti, não percebes?

Meu poema é por ti, não o renegues...


A natureza me fez mulher como as éguas do prado...

E me deu cheiros e sabores estranhos, um fardo,

que carrego com hormônios de semear a terra,

que desdobro em gozos de conceber os frutos,

que acoberto com cada braço que encerra

um recomeço de dia, um alvorecer...

 
Meu momento de luz é teu, meu sol, minha luz...

Meu tormento é por ti, minha lua, que me induz...

Meu talento é pra ti, doce estrela da manhã,

quando te traio com os pássaros e a eles dou maçã...

 
A natureza te fez macho para meus deleites e desejos,

mas te deu asas de anjo em corpo de lobo, te deu vôos,

fez de ti um planador alado e risonho, te fez tão alto,

inalcançável até, em tantas vezes nas noites, te assalto,

te roubo a paz, te dou angústias em troca da distância..
 

Meu caminhar é costurado em atalhos que talho em ânsia

a adorar os campos, cobrir-me de folhas, molhar-me de chuva,

a dançar com pés na terra, agarrar-me às arvores da uva...

 
Minha estrada é pontilhada de brilhos quando piso a nuvem,

meu corpo é inundado de prazer quando sinto tua penugem,

meus dedos são pequenos e iluminados quando te tocam a alma

 
Natureza... tu me és o esplender dos deuses...

e se te tenho, nem preciso morrer porque vivo em ti

e transmuto matéria em essência, amor em eternidade calma...


Já não me perturba o fim... ele é apenas transformação

de gente em pó... de pó em gente...

Natureza... tu me invades a gruta da nascente lúdica..

e deixa brotar as águas translúcidas da verdadeira emoção..

 
Te chegas mais e de ti sinto o conforto pleno e doce,

pelo quanto foi justo ter amado tanto como se eu fosse

capaz de guardar o mundo, de me fazer oferenda e prenda...

 
Na cerimônia da floresta, só me resta, eu sei,

doar-me ao infinito sentido da natureza em festa...

E , quando as feiticeiras, em sábado feliz , se encontram,

suas vozes entoam o cântico perfeito, elas apontam,

mais caminhos, mais atalhos, mais estradas, mais trilhas,

por onde vamos, nos deixamos ir, por milhas e milhas...


Natureza,

não vês que sigo, não vês que flutuo, não vês que mudo?
 

Aparecida Torneros (poema de 2005)







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