sábado, 31 de julho de 2010

Brasília, minhas redescobertas...


Em Brasília, durante cinco dias, participando com minha amiga também  jornalista Denise Teixeira,do Encontro Nacional das Entidades Médicas, o ENEM, tive a chance de viver novas redescobertas.

Redescobri, por exemplo, o gosto de observar o  por do sol no serrado, encantador e reconfortante, enquanto o carro deslizava nas vias extensas  e  a silhueta dos arbustos  se completava  em tons de rosa e dourado, à  vista   dolhos, como um desenho encomendado ao pintor não  identificado, o misterioso criador  dos   momentos que passam tão rapidamente. Redescobri o sentimento de estar no centro de um país tão pujante, ouvir o hino nacional tocado  por um sax e me emocionar de  novo...
Redescobri a doçura de um olhar penetrante e a vontade de um beijo que não demos ainda...
mas, redescobri mais... a verdade que se abriga na "mentira", a mesma mentira que escrevi em crônica antiga publicada no meu livro a Mulher Necessária...
Redescobertas à parte, Brasília me me  proporcionou tietar JK, admirá-lo mais, e beijar o seu chão...não é que levei um tombaço, saindo do Shopping Pátio e literalmente beijei a calçada? rs
Cida      


As pontes de Brasília
Na lembrança, retorno à minha redação premiada, em 1960, sobre a nova capital : Brasília. Eu tinha 10 anos, ganhei o prêmio a mim entregue em cerimônia no cine Rex, na Cinelândia, Rio de Janeiro, das mãos de autoridades do Governo do novo Estado da Guanabara, que nascia junto com a cidade projetada no planalto central.


Sonho de JK, imaginação fértil e linda nas pranchetas de Niemeyer e Lúcio Costa, a cidade planejada, Brasília, trazia a esperança de um novo Brasil que cresceria a despeito de tudo e de todos, nas décadas seguintes, com a industrialização que, àquele tempo, nos invadia com promessas de futuro melhor.


Já não consigo rever na memória exatamente o conteúdo do meu texto infantil e ufanista, mas sei, tenho certeza, nele invocava a certeza de que Brasília vinha para ficar, seria um marco do Brasil jovem, imponente, a ser construído como país-marco no cenário latino-americano. Só fui conhecer a cidade muitos anos depois e a primeira sensação que tive foi da visão de um lugar em que as pessoas me pareciam distantes umas das outras. Entretanto, nos anos subseqüentes, voltei a Brasília a trabalho algumas vezes e não me cansei de admirar sua força com a motricidade dos lugares que somam história e se auto-delegam como impulsionadores do progresso e das misérias sociais das periferias. Apesar do carinho nutrido por aquele rincão, sempre me deu certa angústia sentir a energia oscilante que por ali vigora,místico lugar que sedia seitas e ampara muitos desenganos.


As tais cidades-satélites crescentes e concentradoras de gente imigrante em nada ficaram a dever às regiões metropolitanas de Rio ou São Paulo, e logo se constatou que o centro de Brasília era uma ilha de poder cercada por gente sonhadora por todos os lados. Quando observo os episódios recorrentes em que Brasília está metida, uma pergunta paira no ar. Talvez não fosse o caso de nos indagarmos de que te acusam, Brasília, de ser uma ilha da fantasia, onde mascarados dançam música ensandecida? Nada disso, diriam os que conseguem se distanciar das histórias escabrosas ou das decisões alvos de acordos e conchavos.


Apenas o exercício pleno da democracia representativa, é o esperável, quando se aguarda que sejam barrados no baile da hipocrisia todos os que nos tentam enganar com frases de efeito ou ações em suspeição.


É preciso construir pontes que nos liguem à Brasília do meu sonho de menina, aquela cidade do imaginário socialista, plano-piloto da grande nave da nação, cujas asas equilibram-se à direita e a esquerda, mantendo o rumo do país, deitado na planície circundante, verdadeiro mar de esperança nacional, berço dos candangos. Foram eles teus primeiros estadistas, e, na linha de sucessão, espera-se que agora, se cumpra teu destino como metrópole iluminada capaz de te religar ao continente verde-amarelo, na mais perfeita engenharia moderna, para que o isolamento não te condene a ser eternamente cidade da mentira.
Aparecida  Torneros
(artigo publicado no livro A mulher necessária)

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