quarta-feira, 26 de maio de 2010

RECEBA AS FLORES QUE LHE DOU com Nilton Cesar e o poema de Neruda



Ninguém melhor que o grande poeta Pablo Neruda para expressar o antagonismo da paixão, mas principalmente a intensidade da paixão:


"Posso escrever os versos mais tristes esta noite.


Escrever, por exemplo: 'A noite está estrelada,


e tiritam, azuis, os astros, ao longe'.


O vento da noite gira no céu e canta.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.


Eu a quis, e às vezes ela também me quis...


Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.


A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.


Ela me quis, às vezes eu também a queria.


Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.


Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.


Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.


E o verso cai na alma como na relva o orvalho.


Que importa que meu amor não pudesse guardá-la.


A noite está estrelada e ela não está comigo.


Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.


Minha alma não se contenta com tê-la perdido.


Como para aproximá-la meu olhar a procura.


Meu coração a procura, e ela não está comigo.


A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.


Nós, os de então, já não somos os mesmos.


Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.


Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.


De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.


Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.


Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.


É tão curto o amor, e é tão longo o esquecimento.


minha alma não se contenta com tê-la perdido.


Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,


e estes, os últimos versos que lhe escrevo"


(Pablo Neruda, Poema 20)

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