Tem qualquer cheiro de poesia no ar da sua boca...
Tem um cheiro de poesia
tem um perfume inquieto e aveludado
sai do ar da sua boca e me encanta...
Nem sei explicar
nem tenho que explicar nada
se eu não sabia
nem sei tampouco agora
coisas da vida, louca e santa,
destinos cruzados, o jeito de amar
não é melhor ou pior que o som do fado...
nem é como o samba de roda, do pagode lá fora,
tem ares de encontro, definitivo tilintar
de sinos ouvidos a léguas da aldeia,
e o cheiro me invade, penetrando as narinas,
minhas coxas meninas, meus sucos emergentes,
tantos sentidos tão urgentes, tudo atropelado,
seu olhar é de ferro, a cara de mau, não é de pau,
é marezia, o perfume denso, as carnes ferventes,
tem cheiro de ontem, de hoje e amanhã,
é como diria o Tom, uma febre tersã,
é frenesi de ouvinte, cheiradora e fã,
mas, sem querer ser redundante, é mesmo vendaval,
varre idéias pré-concebidas, e concebe um festival
de novas canções em novas vidas, e,se, não me creia,
não ficarei zangada, nem triste, já sei que o amor existe
e, mais cedo ou mais tarde, se a vida se esvai,
se o tempo passa e a história corre, zoando da gente,
tem qualquer cheiro que fica, fica forte na memória olfativa
a me deixar bem contente, por sentir tal odor, assim, pensativa...
e, valha-me minha santa padroeira, que esse cheiro chegou a mim,
assim, sem eira nem beira, e tem som, além do perfume e do canto,
tem sinos dobrando por nós, nalguma capela de beira de estrada...
O caminho de cada coração partido é tentar colar-se, assim,
quando isso acontece, tem um gosto que era cheiro antes,
e o gosto vem no ar de boca beijante, alma pulsante,
como a sua, como a minha, almas poetas, que se reconhecem,
enfim...
Aparecida Torneros
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