Quando a vida corre e o tempo passa, tem sempre algum lugar que a gente nunca pisou, mas que sabe que já conhece...de outras vidas, talvez...ou dessa mesmo, através de tantas informações que se colheu ao longo dos anos. Comigo, sobre a Bahia, aconteceu assim...
Uma vontade frustrada de passar por lá quando mocinha, muitas histórias de amigos e amigas que de lá voltavam me enchendo a boca dágua, minhas idas consoladoras à Feira Carioca da Providência, anos a fio, visitando a Barraca da Bahia. Era pra comer acarajé, vatapá, caruru, quase como se estivesse mesmo na "terrinha". Surgiu uma chance, nos anos 80, fui conhecer Porto Seguro, primeiro, a Baía Cabrália, Prado, Itabuna, Caravelas, fui por terra, meu filho junto, menino ainda. O encanto que senti, era próprio de uma turista extasiada. Mas ainda não era Salvador, e continuei sonhando com as imagens que me acostumei a ver quando li e reli os livros do Jorge Amado. No íntimo, tinha certeza de que um dia, ia aterrissar naquela cidade-mãe, primeira capital do Brasil e subir o elevador Lacerda, misturando-me ao povo do lugar.
Pois, em 2003, com a sensação de 40 anos de atraso, consegui viajar em abril, por uma semana, finalmente, para hospedar-me, solitária e sedenta de bahianices , num hotel da Barra. Como diria o Jamelão, fiquei mais feliz que pinto no lixo. Danei a fazer excursões, de manhã e de tarde, por uns quatro dias seguidos. Bahia histórica, Bahia tradicional, as praias do litoral Norte, etc. etc.
Visitas ao Pelourinho, fotografias com baianas, a lagoa de Abaeté, caminhadas solitárias pela orla nas três manhãs que antecederam a minha volta ao Rio. Conheci um típico cicerone baiano, numa dessas andanças pela praia. Ele me mostrou a noite no Xororó, com aquelas figuras fantásticas, dos Orixás emergindo das águas. O novo amigo, espantado e sem jeito, presenciou meu chororô, pois foi o que me coube fazer, diante do brilho que percebi naquela terra, cuja gente me comovia encharcando-me de histórias de miscegenação.
Ele próprio contou-me que uma noite, madrugada alta, viu e nunca esqueceu, Irmã Dulce saltando de uma van, indo abraçar e acolher um mendigo na calçada, a quem ela deu colo como se fora a mãe acariciando um filho menino. Histórias da Bahia, sempre colecionei, as que li, as que me contaram e as que eu mesma vivi, nas viagens que fiz ali.
Acontece que, fui me sentindo cada vez mais identificada com o clima baiano, e, apesar de nunca ter morado lá, sinto-me em casa, sempre, quando volto. Tenho agora prima, marido, a filhinha deles, além de muitos amigos e amigas morando em Salvador. Tenho o carinho editorial do Vitor Hugo Soares, que publica meus singelos textos, tantas vezes, no Bahia em Pauta, como já o fez, anteriormente, no Jornal A Tarde.
Tenho, sobretudo, a alegria de sonhar com aqueles ares e "volver" sempre que é possível.
Agora, vou na Semana Santa. Ficarei num desses Resorts, na praia do Forte, mas visitarei a cidade e os amigos, disso não abro mão. Algumas companheiras cariocas estarão comigo no descanso programado, porém, já lhes avisei que o Bonfim me espera, e lá não deixo de ir em todas as viagens a Salvador.
Nos últimos 7 anos, volto sempre à capital baiana, com carinho renovado e alma em festa. Acompanho seus movimentos, preocupo-me com seus índices crescentes de violência, lamento o atraso da implantação do metropolitano, saúdo seu maravilhoso carnaval, torço pelo sucesso dos seus artistas, repercuto o sentido das suas lutas, gosto de testemunhar seu progresso, e me regosijo a cada notícia alvissareira que me chega desde a terra de Caymmi.
Um gosto de dendê me invade a boca, o cheiro do mar baiano me conquista, também a cor, aquele verde novinho em folha, como definiu Vinícius, a famosa preguiça que a Bahia imprime na nossa visão de mundo, aquele instante para relaxar, na rede, de preferência, deixar-se inundar de vida passante, buscar abraços confortadores, beijos calmantes, para em seguida, sair atrás do Olodum, de um trio elétrico que remexa nosso coração, reinvente nossa trajetória, nos sacuda a alma, nos reavive os sentimentos.
Em mim, particularmente, vem uma vontade de estar com quem me dê de beber uma água de coco, mesmo que seja na fantasia de ter ao lado alguém que já viveu na Pituba, jogou no campeonato baiano de tênis, um ser viajado e cavaleiro andante, que coincidentemente, mora na minha rua, no Rio de Janeiro, e que ao saber que estou indo passar uns dias naquele lugar abençoado, deixou escapar, em tom lamentoso e bem baianês...ai que saudade eu tenho da Bahia... mas, quem não tem?
Aliás, e por falar em saudade, onde anda você? Venha comigo, Cigano, me encontre no Mercado Modelo e vamos baianar durante os feriados Santos, na Bahia que é de todos os Santos, afinal....
Cida Torneros
Estamos te esperando em aqui, Cidinha! Bjos com Saudade
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