sexta-feira, 26 de março de 2010

E POR FALAR EM SAUDADE? BAHIA DO MEU CORAÇÃO ...


Quando a vida corre e o tempo passa, tem sempre algum lugar que a gente nunca pisou, mas que sabe que já conhece...de outras vidas, talvez...ou dessa mesmo, através  de  tantas  informações que se  colheu ao longo dos anos.  Comigo, sobre a Bahia, aconteceu assim... 

Uma vontade frustrada de passar  por lá quando mocinha, muitas histórias de amigos e amigas que de lá voltavam me enchendo a boca dágua, minhas idas consoladoras  à Feira Carioca da Providência, anos a fio, visitando a Barraca da Bahia. Era pra comer acarajé, vatapá, caruru, quase  como se estivesse mesmo na "terrinha". Surgiu uma chance, nos anos 80, fui conhecer  Porto Seguro,  primeiro, a Baía Cabrália, Prado,  Itabuna, Caravelas, fui por terra, meu filho junto, menino ainda. O encanto que senti, era  próprio de uma turista extasiada. Mas ainda não era Salvador, e continuei sonhando com as  imagens que me acostumei a ver quando li e reli os livros do Jorge Amado. No   íntimo, tinha certeza  de que um dia, ia aterrissar naquela cidade-mãe,   primeira capital do Brasil  e subir  o elevador Lacerda,  misturando-me ao  povo do lugar.

Pois, em 2003,  com a sensação de 40 anos de atraso, consegui viajar em abril, por uma semana, finalmente, para hospedar-me, solitária e sedenta de bahianices , num   hotel da Barra. Como diria o  Jamelão,  fiquei mais feliz que pinto no lixo. Danei a fazer  excursões, de manhã e de tarde,  por uns quatro dias seguidos. Bahia  histórica, Bahia tradicional, as  praias do litoral Norte, etc. etc.

Visitas ao Pelourinho, fotografias com baianas, a lagoa de Abaeté, caminhadas solitárias pela  orla nas três manhãs que antecederam a minha volta ao Rio. Conheci um típico cicerone  baiano, numa dessas andanças pela praia. Ele me mostrou a noite  no Xororó, com aquelas figuras fantásticas, dos Orixás  emergindo das águas. O novo amigo, espantado e sem jeito, presenciou meu chororô, pois foi o que me coube fazer, diante do brilho que  percebi naquela  terra, cuja gente  me comovia encharcando-me de histórias de miscegenação.
Ele próprio contou-me  que  uma noite, madrugada alta, viu e nunca esqueceu,  Irmã Dulce saltando de uma van,  indo abraçar e acolher um mendigo na calçada, a quem ela deu colo como se fora a mãe acariciando um filho menino. Histórias da Bahia, sempre colecionei, as que li, as que me contaram e as que eu mesma vivi, nas viagens  que fiz  ali. 

Acontece que,  fui me sentindo cada vez mais identificada com o  clima  baiano, e,  apesar de nunca ter morado  lá, sinto-me em casa, sempre,  quando volto. Tenho agora prima, marido,  a  filhinha deles, além de muitos amigos e amigas morando em Salvador. Tenho o carinho editorial do Vitor Hugo Soares, que publica meus  singelos textos, tantas vezes, no Bahia em   Pauta, como já  o fez, anteriormente, no Jornal A Tarde.
Tenho, sobretudo,  a alegria de  sonhar com aqueles ares e  "volver" sempre que é possível.

Agora, vou na Semana Santa. Ficarei num desses Resorts, na  praia do Forte,  mas  visitarei a cidade e os amigos, disso não abro mão. Algumas companheiras cariocas estarão comigo  no descanso  programado, porém,  já  lhes avisei    que  o Bonfim me  espera,  e lá não deixo de ir  em todas as viagens a Salvador.

Nos  últimos 7 anos, volto sempre à capital baiana, com   carinho renovado e alma em festa. Acompanho seus movimentos, preocupo-me com seus índices crescentes de violência, lamento o atraso da implantação do metropolitano, saúdo seu maravilhoso carnaval,  torço  pelo sucesso dos seus  artistas,  repercuto o sentido das suas  lutas, gosto de  testemunhar  seu   progresso, e  me  regosijo  a cada  notícia  alvissareira que me  chega desde a terra de  Caymmi.

Um gosto de dendê me invade a boca, o cheiro do mar baiano me conquista, também a cor, aquele verde novinho em folha, como definiu Vinícius,  a   famosa  preguiça  que a Bahia  imprime na  nossa visão de mundo, aquele instante para  relaxar,  na rede, de  preferência,  deixar-se  inundar de  vida   passante, buscar  abraços  confortadores,  beijos calmantes, para em seguida, sair   atrás do Olodum, de um trio elétrico  que remexa  nosso coração, reinvente  nossa trajetória, nos sacuda a alma, nos  reavive os sentimentos.

Em mim,  particularmente, vem uma vontade de estar  com quem me dê de beber uma  água de coco, mesmo que seja na fantasia de ter ao lado alguém que já viveu na Pituba, jogou no campeonato baiano de tênis, um ser viajado e cavaleiro andante, que coincidentemente, mora na minha rua, no Rio de Janeiro, e que ao saber que  estou  indo  passar uns dias naquele lugar abençoado, deixou escapar, em  tom lamentoso e bem  baianês...ai  que  saudade eu tenho da Bahia... mas, quem não tem?

Aliás, e por falar em saudade,  onde anda você? Venha comigo, Cigano, me encontre no Mercado Modelo e vamos baianar durante os feriados  Santos,  na Bahia que é de todos  os  Santos, afinal....
                                                                              Cida Torneros   

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