quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A lógica do acaso ( conto)

"busco simplesmente viver aceitando o acaso como o grande formador de toda historia"



A lógica do acaso



Deve ter sido mesmo por acaso que Manoelita percebeu certo sentido de enveredar pelo corpo dele, como um bólido de amor, um fogo fátuo, um cometa gasoso, buscando o beijo e o cheiro.

Casualmente, ele chegou voando na vida dela. Vinha de um tempo longínquo, um extra-terrestre, talvez, ela refletiu, seria um espírito brincalhão tomando formas de parceiro disponível?



Fato é que se encontraram. Se perderam...Tornaram a se ver. Aí, um carinho especial aconteceu entre eles. Havia certa cumplicidade a dizer:- não me prenda, mas também não me solte... coisa esquisita, passível de confundir qualquer cabeça pensante...mas, ela e ele souberam logo que tudo era um acaso, e não deviam complicar nada...


De repente, um olhar para o alto, lá estava Manoelita, na sacada antiga, como uma donzela de filme romântico, a acenar para ele, que seguia ... adentrando num carro, dando até logo...

Voltaria? Ela não soube responder... Afinal, deixariam com o acaso..teriam ou não um caso? Por via das dúvidas, ela buscou qualquer coisa pra fazer, pegou a agulha de crochê, teceu pontos de trancinha... danou a fazer laços desenhando arabescos, desenhando flores onde antes só havia linha.


Mãos ágeis, pensamento solto, ela foi se acalmando. Por acaso, nas ruas, milhares de pessoas caminhavam se cruzando sem nunca se terem visto de verdade. Achá-lo, já tinha sido um grande acaso... Perdê-lo, entretanto, concluiu, dando um nó na renda que crescia em suas mãos, seria, agora, um grande azar...


Voltou-se para si mesma, não ia complicar as coisas, afinal, não eram nada um do outro...parecia que fugiam mesmo do que se podia chamar de laços fortes... Pegou de novo o artesanato.....Puxou a linha verde como a esperança das florestas...Desmanchou ...Precisava tecer com menos aperto... Pontos largos, respirantes, soltos...


Duas teimosas lágrimas insistiram em brotar no canto dos olhos maduros... Queria mesmo que ele, qualquer hora dessas, voltasse aos seus beijos e abraços... Aí, chorou copiosamente, mas não de tristeza...era emoção pura...


Ele estava tão dentro dela ainda...a voz dele era tão evidente nos seus ouvidos... ecoava, reverberando a ternura com que a presenteara horas antes... Já não importava muito se voltasse... agora...o que contava, no fundo, era o mistério do acaso no mundo...


Ela se deixou adormecer no sofá onde ele a beijara tanto.


Dormiu profundamente. Entregou os pontos...Aceitou a lógica do acaso...Por acaso, sonhou com ele...


Aparecida Torneros

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