sábado, 14 de novembro de 2009

Tem alguém acordado aí?



Tem alguém acordado aí?


Este artigo meu foi publicado no site do Ecodebate e reproduzido no site do Al Gore.





Artigo dedicado à Jornalista Márcia Pimenta


Gestora Ambiental ( ela acordou mais cedo!)



Às vezes, me parece que a humanidade toda, numa inversão fantástica, está dormindo, à sono solto, naquele estado quase petrificado, quando nem sequer se move um braço ou se muda de lado, tal o grau de sono tão pesado quanto estático, com as cristalizadas atitudes de desrespeito ao meio ambiente, incluindo-se aí, o próprio Homem, enquanto parte integrante da natureza .


Então, minha imaginação que se alimenta de hipóteses absurdas, me faz crer que o vivido no dia-a-dia, nada mais é do que uma sucessão de sonhos bons ou pesadelos.


Como classificar os atentados terroristas, os massacres religiosos, as batalhas infernais entre árabes e judeus, a perseguição dos oprimidos, os boicotes comerciais dos grandes blocos sobre as nações de menor porte, a dizimação das tribos indígenas, as alianças hegemõnicas dos dominadores, os gritos sufocados dos injustiçados, o dogmatismo psicótico das religiões, a contaminação das crianças por doenças evitáveis, o uso de cobaias humanas nos continente africano pelos conglomerados da indústria farmacêutica, a pobreza consentida e a ignorância estimulada?


Só podem ser pesadelos e dos mais angustiantes. Para visões assim tão deprimentes, só mesmo um despertar reparador, na manhã do mais puro céu azul, onde o sol brilhe como a glória sobre o Planeta.


Mas, se porventura, se pode observar os movimentos de bandos de seres humanos que se tornam anjos dos seus pares e lá estão, espalhados por toda a humanidade, como mensageiros da esperança, é possível apreciar a luta dos empreendedores, a dedicação dos professores, a renúncia dos médicos, o infinito amor das mães por suas proles, as tentativas de acertar de tanta gente desconhecida ou famosa, a dignidade da gente comum que pega o transporte coletivo com o dia clareando nas metrópoles do mundo todo, e aí, com não concluir que estes são os bons sonhos que merecemos sonhar nas madrugadas do tempo?


Mesmo assim, diante de um sem número de dramas, problemas, guerras internas e externas nos lugares mais próximos ou distantes, ainda sabemos que tudo é muito lento no sentido de atingirmos ao patamar de seres humanos felizes, vivendo igualitariamente, sem a preocupação de nos explorarmos riquezas ou nos usarmos uns aos outros, com a mais desavergonhada desfaçatez.


Matar, vencer, dominar, conduzir, verbos empregados com semânticas específicas e justificativas inconsistentes. Apoderar-se é o verbo mais conjugado desde que o homem deixou de andar nas quatro patas e tornou-se o bípede mais ousado da face da Terra.

No entanto, desde o macaco rhesus, o que se vê, é uma sucessão de cochiladas. Encontramo-nos dormitando como ursos nos invernos polares.

Fechamos os olhos à obviedade em função de predicados adquiridos, verdadeiras peles adensadas aos cérebros dos líderes, comandantes, executivos, chefes de estados, legisladores e diplomatas, entre outros, que se acostumaram a defender interesses conflitantes com apoio de instrumentos ultrapassados.


Usa-se a ambição, como escopo. O potencial nuclear, como ameaça. A dominação comercial, como ato de encurralar povos, nações, etnias, tribos. A mentira, como álibi. O ódio, como desculpa.

Na verdade, dorme-se a pasmaceira da primitiva ordenaço de valores onde as leis deixam de ser respeitadas quando a força bélica passa a ser a grande voz. O som dos mísseis atinge os objetivos de ensurdecer quem desafie os poderosos.

Quase todos estão dormindo. Alguns de nós, em estado catatônico, na letargia que nos impede de levantar desse adormecimento que se prolonga há séculos.


Um dia, vamos acordar, evidentemente. Só vamos acordar porque é plausível a divagação que nos aponta o caminho de novas realidades, de teor positivo, para a sobrevivência das  espécies.


As novas posturas virão, cedo ou tarde, revertendo esse processo alucinógeno de uma humanidade suicida que tira toda a energia do seu habitat, ao passo que tenta se programar para dar a volta e salvar a Terra, a despeito dos retrocessos constantes.


Se houver o tal amanhã que pretendemos, será possivel trocar esses pesadelos banalizados, por sonhos realizados, numa vitória da vigília sobre o sono alienante.

Haverá o dia em que nossas crianças, de todos os continentes, não aprenderão a combater inimigos formulados por suas culturas isoladas, mas sim, entenderão que abraçar as causas comuns, torna feliz toda a espécie humana, redime suas podres histórias, ameniza seus erros passados, reordena o Planeta.

Assim, com a certeza "incerta" dos males das minhas muitas madrugadas insones, proponho que nos chamemos todos e nos belisquemos...

Se não doer, é porque estamos mesmo dormindo, pena que ainda é o sono dos injustos...Tomara que não seja , irremediavelmente, o sono eterno da morte.


Aparecida Torneros


Jornalista- RJ



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