sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Convite para lançamento do livro em Salvador



Bonfim em cadeia nacional
APARECIDA TORNEROS
O jornal de transmissão nacional na rede de maior audiência finalizou-se com a reportagem sobre a lavagem das escadas do Senhor do Bonfim.Registro folclórico de tradição centenária, o cortejo foi mostrado com sua grandeza ritualística de uma beleza branca imaculada.Mas não foi bem assim que eu senti a repercussão da matéria jornalística apresentada na telinha. O que me arrepiou os poros, aquecendo-me as entranhas de energia, foi o tal misterioso "axé" atravessando as imagens e sons, ultrapassando a razão lógica, reportando-me ao sentimento do sublime que o sincretismo religioso plantou na Bahia, como semente de amor à vida.Elas, as baianas, surgem em bandos, movimentando a Praça da Sé, tal borboletas esvoaçantes, de uma luninosidade resplandescente, com suas vestimentas típicas, enfeitadas, batas e babados, bordados e laços, colares e “quartinhas” nos braços a carregar a água-de-cheiro. O destino a que se entregam, deixa os fiéis “de alma lavada” , como bem declarou uma jovem e linda baianinha, imbuída da mais completa doçura, ao ser entrevistada.A emoção me fez ser testemunha, via televisão, do compromisso cultural representado pelo Memorial das Baianas, daquela procissão caminhante, mulheres com torços enrolados na cabeça, à moda africana, saias rendadas, trilhando com perfumes da alfazema a direção da Conceição da Praia.Sete tipos de folhas verdes e tantas flores brancas adornando rostos que denotam crença no mundo dos homens e no céu do Senhor do Bonfim, aquele que habita o alto da Colina Sagrada, por onde se sobe por degraus de conquista dos bens morais, benemerências espirituais, rezas fortes, corpos fechados na linha dos santos e, sobretudo, na fé , indo a pé, cantando sua devoção, seu clamor de paz.Prometi-me, não me contive, ir no próximo ano e fazer parte do enredo. Ser alguém que participe ao vivo e em cores de tão linda festa de corações solidários tocados pelas bênçãos do Pai Oxalá.Só estive no Bonfim uma vez, era abril de 2004, fui contemplada com um duplo arco -íris assim que saí da igreja, o céu coloriu-se depois de uma leve chuva, agradeci tal presente dos deuses, saí de lá com muitas fitas da sorte, que distribuí aos amigos durante muito tempo.Como presságio, descobri que meu coração abaianou-se.Quanto à alma, nem me perguntem agora, que ela me leva a Salvador, com as asas que a escrita me permite, banhando-me a cabeça com proteção do Bonfim. Amém.

Aparecida Torneros, jornalista, reside no Rio de Janeiro
( artigo publicado no jornal A TARDE e reproduzido no livro A Mulher Necessária)

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