sábado, 27 de setembro de 2008

Leila Pinheiro: Catavento e Girassol




O colo, o ombro, a voz e o horizonte de Leila Pinheiro

Ao vivo, eu a vi e ouvi, num domingo memorável, bem no alto da montanha, na Boa Vista, tendo a vista da floresta da Tijuca a me circundar, enquanto a voz de anjinho paraense, repetia canções velhas conhecidas da minha idade gostosa como as mangas maduras da terra dela.
O Rio, naquele almoço com música, no Museu do Açude, estava mais iluminado do que nunca antes, quando a pequenina e doce cantadeira desfilou rosário de intimidades entre nós, público carente de amizades sólidas, pessoas fugidias da violência e do tédio, a buscar a paz do reencontro com a natureza, com a beleza, com a grandeza da mensagem mais pura e dadivosa.
Ali, me revi como mulher do mesmo tempo que o dela, a Leila Pinheiro, criaturinha pródiga de sentimentalidades várias, de quem eu fui comprar, no dia seguinte, os cds playes de canções mais antigas, trocando considerações com meu dileto irmão, seu fã há décadas, sobre o "Catavento e o girassol , um dos seus clássicos.
Não bastasse essa emoção revivida, não é que ela me surpreende nos últimos dias, com a gravação de um delicioso apanhado aconchegante intitulado "nos horizontes do mundo".
Primeiro, assisti o especial com Chico Pinheiro, que a entrevistou no seu estúdio carioca, cheia de charme, ao piano, com fundo de girassóis e clima de artista no seu local de trabalho, com direito a confidências que desnudaram até a "Renata Maria", música do Chico Buarque, especial pra ela, cujo tema se confunde com o imaginário do beijo do "muso" compositor numa linda mulher misteriosa na praia do Leblon. Fica a pergunta, ninguém tem certeza, mas se a tal senhora osculada pelo Chico for realmente a musa inspiradora, o que importa é que a sutileza dos seus versos delineados por uma Leila, nos conduz, ou melhor, nos desliza a imaginação: " tão fulgurante visão não se produz duas vezes num mesmo lugar, mas que danado fui eu enquanto Renata Maria saía do mar".
Ô Leilinha, com jeito especial de cantar a vida, tinha que me fazer buscar imediatamente, mais uma vez, pelo seu produto de fino gosto, nas lojas, e adquirir meu pequeno tesouro, com pressa de ouvir, na solidão solene dos rituais de alma leve? Pois foi assim mesmo. Está sendo, há alguns dias, chego em casa e ligo o som. Não precisa dizer que viajo? E flutuo, no seu horizonte.
Para surpresa do meu colo vazio, recebo o conforto dos abraços enviados a esmo, por tantos e tantas, que cruzam minha vida, enquanto a voz da cantora experiente, me embala. Minha alma busca o sonhado ombro aconchegante da harmonia humana, essa utopia possível, que eu reecontro na voz da Leila.
Aparecida Torneros, sexta chuvosa, Rio de Janeiro, agosto, 2005, ouvindo a Leila

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